Fazer com que o público associe imediatamente uma imagem à marca que ela representa é uma das missões das áreas de marketing das empresas e suas respectivas agências de publicidade. No mercado de autopeças e componentes automotivos, em geral há bons exemplos de sucesso nesta equação. O Boneco da Michelin é um dos desses ícones da indústria.
Curioso, simpático e inconfundível, batizado Bibendum, ou, como é de fato conhecido em todo o planeta, simplesmente o Boneco da Michelin. Basta encontrar um deles pela frente para imediatamente lembrar da famosa fabricante francesa de pneus.
Criado quase que por acaso há mais de 120 anos, o mascote da empresa fundada na França conquistou seu espaço no imaginário popular e até hoje representa como poucos os valores da marca de pneus que o idealizou.
Uma década antes do Boneco da Michelin
Os irmão eram, também, empreendedores por natureza. Conta-se que, um dia, presenciaram um acidente com um ciclista, que resultou em um pneu comprometido. Propuseram-se a ajudar e conseguiram reparar o dano.
Perspicazes, perceberam naquele incidente uma oportunidade, já que a substituição dos pneus, na época, era tão complexa que exigia a presença de um especialista para realizar a tarefa. Depois de muito trabalho, pesquisas, estudos e testes criaram um pneumático que não era mais sólido, e sim composto por uma carcaça oca de borracha e um tubo de ar por dentro.
Este novo pneu era desmontável e podia ser reparado em pouco tempo, no máximo em meia hora. Nascia ali uma tecnologia que perduraria por mais de um século dominando a indústria automotiva: os pneus com câmaras de ar.
O potencial do invento fez com que os irmãos investissem nesse novo segmento – eles já haviam assumido anteriormente a pequena fábrica de pastilhas de freio do avô – e, em 1889, fundam a Compagnie Générale des Établissements Michelin, na cidade francesa de Clermont-Ferrand.
Boneco da Michelin: mais uma ideia genial
Toda nova tecnologia gera dúvidas e resistências. Assim também ocorreu com os pneus criados pelos irmãos Michelin.
Ao longo dos anos seguintes, eles participaram de inúmeras palestras, exposições e até levaram os pneus para competições esportivas com o intuito de provar a eficiência, resistência e superioridade do novo invento em comparação aos conhecidos e confiáveis pneus sólidos. Mas o destino e a criatividade inesperadamente interfeririam para dar uma valiosa ajuda aos persistentes engenheiros.
Em 1894, os irmãos Michelin organizavam seu estande para a exposição de automóveis Universal de Lyon, evento de forte repercussão realizado na charmosa cidade francesa. Em determinado momento, duas pilhas de pneus de diferentes tamanhos chamaram a atenção de Édouard. Graças a uma feliz distribuição casual dos componentes, o empilhamento dos produtos formava a silhueta de uma pessoa.
De forma um tanto despretensiosa, Édouard comentou a curiosidade com seu irmão mais velho e sugeriu que, talvez, um boneco de pneus poderia representar a marca. A exposição prosseguiu e a escultura involuntária, aparentemente, foi esquecida.
Quatro anos depois daquela curiosa visão, André Michelin encontrou um cartaz elaborado pelo famoso artista plástico francês Marius Rossilon. Conhecido pelo pseudônimo de O’Galop, Rossilon era famoso na época pelas caricaturas que desenhava para revistas – mais tarde, na primeira década do século seguinte, se consagraria como pioneiro dos filmes de animação.
Naquele momento, André se lembrou da sugestão de Édouard por ocasião da exposição e percebeu que o sofisticado e criativo traço de O’Galop poderia dar vazão à proposta de seu irmão. Nascia ali um dos maiores ícones da indústria automobilística em todos os tempos: o Boneco da Michelin.
Bibendum: celebrando o Boneco da Michelin
O Boneco da Michelin foi um sucesso desde seu nascimento. Mas quem conhece o alegre personagem dos dias de hoje, pode achar interessante o processo de evolução dos traços ao longo do tempo. Na verdade, inicialmente o Boneco da Michelin até lembrava as múmias dos desenhos animados.
Os traços eram, afinal, perfeitamente compatíveis com a época da criação e a arte visual que se desenvolvia naqueles tempos. Tudo se encaixava dentro de seu contexto histórico, um tempo em que os pneumáticos eram muito mais finos do que os que conhecemos hoje.
Outra consequência do momento em que o boneco da Michelin foi criado era o fato de o personagem ser branco, algo que para nós, que vivemos no século 21, pode parecer estranho. Ocorre que os primeiros pneumáticos fabricados também eram brancos. O corante que deu à borracha a cor preta que conhecemos hoje foi adicionado apenas nos primeiros anos da década de 1910.
O´Galop continuaria assinando o desenho do Boneco da Michelin até 1911. Naquele período, o Boneco da Michelin foi visto por multidões em belíssimos cartazes publicitários, tornando a figura cada vez mais popular e presente no imaginário das pessoas.
Na época, o Boneco da Michelin era chamado de Bibendum. A própria empresa explica que a palavra tem origem na expressão em latim nunc est bibendum, que era empregada para celebrar acontecimentos especiais e que, em bom português, quer dizer agora é hora de beber.
A Michelin diz, ainda, que tal significado faz referência aos resistentes gomos dos pneus da marca, que “bebiam” os obstáculos.
Para justificar essa interpretação no mínimo curiosa, as primeiras representações traziam o Boneco da Michelin segurando uma taça cheia de pregos e cacos de vidro! (atenção, o autor desta matéria adverte: não tente fazer isso em casa!).
Toda grande ideia reúne lendas e mitos. Uma delas conta que O’Galop apresentou aos irmãos Michelin um cartaz de sua autoria para uma cervejaria de Munique, mas que havia sido reprovado pelo cliente.
A ilustração mostrava o rei Gambrinus, santo padroeiro da cerveja, conclamando: nunc est bibendum (agora é hora de beber). A substituição de vossa majestade pelo Boneco da Michelin parece ter sido uma ideia que agradou aos irmãos.
Com o passar do tempo, diferentes artistas plásticos assumiram a missão de desenhar o Boneco da Michelin, humanizando cada vez mais a aparência da mascote e tornando-o muito mais simpático e sociável.
Nada de brindes com taças repletas de pregos e cacos de vidro! Consagrado como uma referência, logo o Boneco da Michelin passou a ter presença assegurada em todas as peças e ações de comunicação da marca, tornando sua identidade sólida e garantindo enorme importância no relacionamento da empresa com seu público consumidor.
A evolução do Boneco da Michelin
Ao longo dos seus mais de 100 anos de existência, o Boneco da Michelin experimentou evolução constante. Mas uma característica marcou esse processo. A mascote foi se tornando cada vez mais jovem e alegre com o passar do tempo.
A grande transformação veio na década de 80 do século passado quando, pela primeira vez, o Boneco da Michelin foi retratado correndo, numa ilustração impactante e inesquecível do artista Walter Storuzok. Com formas mais arredondadas e aparência jovial, mais do que o novo visual o Boneco da Michelin apresentava uma nova atitude, que impulsionou uma importante modernização da imagem da marca.
Embora essa imagem tenha tido forte impacto, a representação do Boneco da Michelin continuou sendo dinâmica nos diversos países em que a marca se fez presente ao longo da história.
Foram diferentes e consagrados artistas colocando seu talento a serviço do Boneco da Michelin – inclusive uma homenagem feita por ninguém menos que o grande pintor catalão Salvador Dali, o mestre do surrealismo. Também foi personagem convidado em quadrinhos do personagem Asterix, da famosa dupla Goscinny e Uderzo.
Sucesso e reconhecimento ao Boneco da Michelin
Uma figura tão representativa de marca como o Boneco da Michelin necessariamente conquistaria o reconhecimento internacional. Em 1986, os especialistas em publicidade elegeram a campanha da época como uma das melhores criadas na década.
Carisma, prestígio e empatia, características do Boneco da Michelin, também resultariam em prêmios para a empresa. O jornal Financial Times e a revista Report on Business elegeram o Boneco da Michelin como o melhor logotipo do mundo.
Em 2011, nova consagração. O Boneco da Michelin entra para a calçada da fama da publicidade. Desde então, a carismática figura arredondada pode ser celebrada na Madison Avenue Advertising Walk of Fame, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
O legado do Boneco da Michelin
A visão de Édouard Michelin, a perspicácia de André Michelin e o providencial encontro dos irmãos com Marius Rossilon, o O’Galop, renderam frutos imensuráveis para uma empresa que, afinal, fabrica pneus, itens primordiais para o automóvel, mas não necessariamente detentores de forte apelo artístico.
O Boneco da Michelin, mais do que representar a marca e proporcionar a ela quase eterna juventude, colocou seus produtos no imaginário popular, contribuindo para que a Michelin se tornasse uma marca aspiracional – sim, entre os amantes de automóveis mundo afora, os pneus Michelin estão entre os mais desejados.
Estamos contando uma história que começou a ser escrita há mais de um século e não tem data para terminar. A empresa que detém a mascote tem muito a comemorar. E a evolução do simpático ícone não para.
“Por mais de 120 anos o Boneco da Michelin tem apoiado fielmente as comunicações do Grupo. Evoluindo com o tempo, ele volta a ter o formado 2D, que permite melhor utilização nas mídias sociais”, relata a Michelin em seu site oficial no Brasil.
“Ele continua encorajando as pessoas a viajar e representando o que a Michelin deseja ser: um parceiro do cotidiano que é familiar, atencioso e acessível. Ele está completamente situado com o mundo contemporâneo, conservando-se acolhedor e cumprindo o seu propósito de guiar e servir nossos clientes”, finaliza a empresa que tem o privilégio de ser representada por uma figura que conquistou espaço definitivo no imaginário popular: o Boneco da Michelin.
A presença da Michelin no Brasil
Assim como ocorre com os gigantes globais de autopeças e componentes automotivos, a Michelin desde cedo marcou forte presença no Brasil. As operações de seu primeiro escritório comercial no país tiveram início em 1927, em São Paulo. Naquele tempo, o Brasil ainda engatinhava no quesito mobilidade e a frota de veículos era pequena, ainda que em clara expansão.
Com o tempo, as importações de automóveis foram crescendo e, na década de 50, teve início a fabricação de nossos primeiros carros. Daí pra frente, a instalação de montadoras fez com que a indústria automobilística brasileira decolasse de vez.
Em 1981, foi inaugurada a primeira fábrica da Michelin em território nacional, na cidade do Rio de Janeiro, para a produção de pneus para caminhões e ônibus. Hoje a empresa está presente no país com dois complexos industriais, que produzem, além dos pneus para ônibus e caminhões, pneus para carros de passeio, mineração e máquinas agrícolas, produtos que abastecem também o mercado global.
A sede da empresa francesa na América do Sul está localizada no Rio de Janeiro, de onde saem todas as estratégias comerciais da Michelin para essa região.
Outra importante atuação da empresa no país é a Reserva Ecológica Michelin, no sul da Bahia, onde está instalado o programa Michelin Ouro Verde Bahia. Baseada nos seus quatro eixos de progresso, a iniciativa visa à proteção ambiental, o desenvolvimento social, a pesquisa científica e o crescimento econômico.
Em 2014, a Michelin finalizou a aquisição da SASCAR, a principal empresa brasileira de gerenciamento de frota digital e segurança de frete.
Como é natural supor, o mercado brasileiro é o maior para a Michelin na América do Sul. E, assim como em todo o mundo, por aqui também brilha a estrela do carismático Boneco da Michelin. O ícone da marca francesa ilustra desde sempre as campanhas publicitárias e ações da fabricante em nosso país. É uma obra do destino.
Por onde passa, o genial Boneco da Michelin deixa sua marca e comprova que boas ideias às vezes nascem por acaso, mas seguem em frente graças também a muito trabalho, talento, criatividade e, talvez acima de tudo isso, graças à mensagem construtiva que podem transmitir, muitas vezes por meio apenas de uma imagem que reúne, ao mesmo tempo, simplicidade e genialidade. Assim é o Boneco da Michelin.
Fonte: NovoVarejo
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